31 agosto 2011

ARQUITETURA PRÉ-HISTÓRICA (CONTINUAÇÃO)

Muito do que foi a arquitetura pré-histórica se perdeu no tempo, mas também há muito o que se sabe e se deduz do que foi a arquitetura antes do surgimento das civilizações.
Os monumentos em pedra são os que mais deixaram seus vestígios por causa da durabilidade do material, mas através da ciência da arqueologia também se conhece um pouco do que foram as técnicas de construção da antiguidade, porém a maior fonte de conhecimento sobre como o homem antigo criava seus abrigos está em alguns povos que ainda hoje constroem sob as mesmas dificuldades e necessidades dos tempos pré-históricos.
O meio em que vive um povo é o principal responsável pela característica arquitetônica das construções. Logo que deixavam as cavernas os homens passavam a construir com os materiais que tinham a disposição, nos lugares mais favoráveis que encontravam. A madeira sempre foi um dos principais materiais de construção, é resistente, leve e fácil de trabalhar, porém um habitante do deserto não podia contar com muita madeira, aí o material mais abundante é a terra, boa para fazer tijolos. A pedra era melhor em regiões que exigiam construções resistentes, para proteção por exemplo, indício de povos que viviam em conflito. Um habitante de uma região fria tinha que ter uma construção de paredes mais volumosas e tetos resistentes e com formatos apropriados para a chuva e a neve. Em áreas alagadiças, casas altas, em locais ventosos, casas baixas e aí por diante. A principal função da casa sempre foi criar um microclima, um local a parte do clima natural, mas outros fatores se somam fazendo com que a arquitetura de cada lugar tenha uma tipologia diferente.
Vejamos alguns exemplos de construções “primitivas” nos tempos modernos.
Os mongóis constroem até hoje uma casa adaptada às estepes e a vida nômade, é chamada yurta e é feita com uma trama de finas madeiras encaixadas, cobertas por capas de palha e tecidos de lã, tem uma cobertura cônica com uma abertura para a circulação de ar e saída da fumaça quando se faz fogo em seu interior.

A yurta das estepes mongóis

Embora seja usado apenas como abrigo temporário o iglu é um bom exemplo de construção que resulta das condições do meio ambiente. Os caçadores inuits usam blocos de gelo para construir pequenas cúpulas que os abrigam da neve e do vento, são forradas com grossas peles e pode-se até fazer fogo no seu interior.
  
O yglu da região polar norte

As tendas dos índios norte americanos são feitas de longas varas cravadas no chão em um círculo e unidas próximo a ponta formando uma estrutura cônica que é envolvida por tecidos ou peles de acordo com as necessidades climáticas.

A tenda indígena da América do Norte

Os nativos das Américas central e do sul usam muito a construção com paredes de taipa de mão, que são estruturas de tramas de madeira preenchidas com uma mistura de palha e barro, a cobertura é feita com grossas camadas de fibras de palha.

Casa de estilo maia

Na Amazônia são comuns as ocas, grandes construções feitas com varas de taquara e tábuas de madeira, são cobertas com folhas de palmeira e palha, não tem divisões internas e os indígenas vivem todos juntos.

A oca das florestas brasileiras

Na África as construções de taipa também são comuns, existem muitos tipos de construção, um exemplo é a disna, comum na Costa do Marfim, que costuma ter a planta circular em vez de retangular. Outra construção comum na África é a cubata, típica de Angola, feita com diversas técnicas, as mais adaptadas são as de adobe, blocos de barro e palha batidos e secos ao sol que proporcionam um excelente controle térmico nas terras quentes da África, a planta é retangular e a cobertura é de palha.

A disna da Costa do Marfim

A cubata africana

Estes são alguns exemplos atuais e que dão uma boa noção de como eram as construções na pré-história.



Fontes:


30 junho 2011

ARQUITETURA PRÉ-HISTÓRICA

Levando em consideração a forma como a maior parte dos historiadores classifica o que é pré-histórico, ou seja, o que não foi registrado pela humanidade com a escrita, vamos ver os primórdios da arquitetura e os primórdios até mesmo das civilizações que ainda não existiam. A importância desta arquitetura é muito maior do que se julga até hoje, embora pareçam a primeira vista obras de povos sem desenvolvimento e de pouca técnica construtiva é justamente o oposto, como veremos estas construções são as bases de tudo o que é construído até hoje, são resultados da união de pessoas para transformar um conjunto de crenças em um espaço materializado para refletir essas crenças, união primordial para o desenvolvimento de uma civilização, a forma de vencer o entorno agressivo e transmitir isso para as gerações seguintes e mesmo que o significado primordial exato tenha se perdido, o germe foi passado adiante e a sociedade destas pessoas venceu e deixou algo.
Um conceito moderno do que é a arquitetura tem que passar pelo conceito de espaço. Faz pouco tempo que este “nada” onde as pessoas se movimentam e vivem foi encontrado e reconhecido pelos arquitetos como a essência de seu trabalho, ele sempre esteve lá como a coisa mais importante, mas ainda se tem a idéia de que um arquiteto é um “ornamentador” de edifícios, um especialista em beleza construtiva. Embora não seja o descobridor do espaço na arquitetura, o arquiteto francês Le Corbusier criou o conceito sintetizado do que é a matéria-prima da arquitetura.

“O espaço... é o protagonista da arquitetura.”

É claro que o espaço sem delimitações é algo não palpável, vago demais, e este é um dos motivos por que ele ficou escondido por tanto tempo, mas a partir do momento em que ele se transforma no protagonista a história da arquitetura ou a pré-história da construção se amplia e estas obras primitivas se tornam muito importantes.

Imagine um deserto, plano e monocromático, com um horizonte reto e distante, sem nada por perto e enquanto você o atravessa surge no horizonte uma linha elevada verticalmente, uma forma não natural. Qual é a sua reação? A curiosidade te leva até lá para descobrir o que é aquilo, pois aquilo é algo feito por outros seres humanos, aquilo tem ou teve alguma importância para alguém que gastou tempo e energia naquilo. Assim começou a arquitetura, com elementos materiais muito primários demarcando espaços. Não importa qual o significado primário que tenha certa coluna elevada em qualquer lugar que seja, em volta dela se cria um espaço atrativo.

Obelisco do Parque do Ibirapuera, Sao Paulo, Brasil

Na teoria do desenho, o elemento mais simples é o ponto, que não tem dimensão, embora arquitetonicamente o ponto (algo colocado na superfície do solo) não seja inválido, ele ainda não tem a primeira dimensão que é tão importante para o conceito de espaço, a partir daí o que passa a ser considerado como arquitetura tem que definir um espaço construído sobre a superfície do solo. No deserto, nas proximidades da cidade de Nazca, no Peru, existem linhas e desenhos complexos traçados no solo, e que tinham grandes significados para aqueles povos que recebem hoje o mesmo nome da cidade. Levando em consideração o espaço como protagonista da arquitetura e reconhecendo que duas dimensões ocupam espaço, deve-se dar a estes desenhos no solo do deserto o estatus de arquitetura? Não. É intrínseca à arquitetura a edificação, algo que se eleva do solo, mesmo que seja o solo subterrâneo, até mesmo uma praça está delimitada por edificações ou será em algum momento envolvida por elas, neste caso o uso de elementos como árvores ou taludes que são contenções do solo, são elementos verticais de interferência humana e que distinguem um simples desenho no solo (que pode ser uma delimitação de um terreno, por exemplo) de uma edificação.
Qual é então a construção primordial?
O menir (do bretão men = pedra e hir = longa) era um megálito, uma pedra grande, colocada verticalmente sobre o solo, apontando para o céu, uma forma fálica, que poderia ter muitas utilidades e significados, vitalidade, fertilidade, fecundidade, monumento comemorativo, utilidades astronômicas ou demarcações geográficas, mas era sempre um elemento que definia um espaço importante e significativo. Estas sociedades não poderiam ter erigido estes megálitos sem o uso da força conjunta ou da alavanca e esta é a origem do que é hoje denominada a coluna moderna nas construções.
Menir da meada, Alentejo, Portugal (cerca de 3000 a.C.)
Posteriormente se passou a alinhar essas pedras, as linhas eram retas ou curvas e eram orientadores astronômicos e/ou geográficos, chamados de alinhamentos de menires, eram o que hoje são as colunatas.
Quando estas pedras eram agrupadas, estes espaços tinham significados religiosos, formando recintos sagrados ou lugares de culto onde eram estudados os fenômenos celestes, são chamados atualmente de cromeleques, que se apresentam em forma de círculos simples, círculos duplos, retângulos e elipses, eram espaços onde a tribo se encontrava, são como as praças modernas.
Cromeleque de Stonehenge, Salisbury, Inglaterra (cerca de 2075 a.C.)
Os trílitos consistiam em dois menires com uma pedra apoiada sobre eles formando o que é atualmente um pórtico de pedra. Os trílitos alinhados também se chamam cromeleques, o mais famoso é Stonehenge na Inglaterra, estes alinhamentos de trílitos correspondem ao que são hoje as chamadas arquitraves.
Posteriormente a complexidade destes megálitos aumentou dando origem aos dolmens (do bretão dol = mesa e men = pedra), eram trílitos encostados formando uma mesa de pedras ou uma grande pedra apoiada sobre vários menires que tinham funções mortuárias, também são conhecidos por antas, orcas, arcas ou palas. São mais encontrados na península hibérica embora existam em outras partes do mundo.
Dolmen da Pedra da arca, Galiza, Espanha (cerca de 3000 a.C.)
Menos comuns são as taulas (significa mesa, em catalão), são pedras horizontais apoiadas sobre uma pedra vertical formando um “T”, podendo ter uma pedra em diagonal apoiada nesta estrutura, também comuns na península ibérica.
Taula de Talatí de Dalt, Menorca, Espanha (cerca de 1000 a.C.)
Posteriormente surgiram as navetas, mais complexas mas ainda em técnica ciclópea (grandes pedras assentadas sem argamassa) com formas naviformes (parecidas com embarcações de cabeça para baixo), também comuns na península ibérica.
Naveta funerária de Es Tudons, Minorca, Espanha (cerca de 1000 a.C.)
Também os nuragos ou nuragues, pedras assentadas formando um tipo de torre-fortaleza em forma de cones, encontradas na Sardenha.

Nurago de Silanus, Sardenha, Itália (cerca de 2000 a.C.)
E por fim os castros, que são aglomerações de construções de pedra quase sempre circulares como os nuragos.

Castro Citânia de Briteiros, Salvador de Briteiros, Portugal - Reconstrucao (cerca de 1000 a.C.)

Fontes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_talay%C3%B3tica

23 maio 2011

ETIMOLOGIA DE ARQUITETURA E CIVILIZAÇÃO

Vamos entender do que estamos falando. O que é a arquitetura? O que é a civilização? Qual a importância de uma para a outra?
Arquitetura é uma palavra de origem grega, arquiteto (arkhitektôn) significa o principal (arkhi) construtor (tektôn), daí que o ofício do arquiteto é o principal dos ofícios, a primeira das artes, a obra primordial, mas isto não significa que ela seja a criação superior, a arte mais nobre, mas que ela é fundamental para tudo o que é criado em uma civilização, a condição principal para a existência das outras artes da humanidade. Mas o que é a civilização? A palavra vem do latim civis e significa cidade, daí se pode pensar que onde existe uma cidade há civilização, mas isto não é necessariamente assim. Quando falamos de uma cidade estamos falando de que? Não há um consenso sobre isto e aí costuma aparecer outra palavra antiga, urbe (do latim urbs) que também significa cidade mas que deu origem à palavra urbanismo que também é ofício do arquiteto na maioria dos casos. Uma cidade urbanizada, planejada, é resultado da organização de seus cidadãos, os civis, quase sempre sob a regência de um governo e já com classes sociais e com uma forma de expressão gráfica, que pode ser o desenho do cotidiano das pessoas, hieróglifos ou a escrita e também a matemática, mas isto tudo ainda é motivo de discussão, mas é fato indiscutível que onde há civilização há arquitetura e é nela que se desenvolvem os fatos cotidianos e onde se encontram abrigados os civís e o que é produzido por eles.

Existe uma linha que liga as civilizações às cidades e as cidades à arquitetura e é por isso que quando se procura entender uma civilização é fundamental encontrar a sua arquitetura, pois ali estão também os artefatos que nos mostram as respostas e a dimensão destas civilizações, da mesma forma quando se conhece as características de uma cultura se pode entender porquê a sua arquitetura é desta forma.






Templo de Ur (Zigurate) no atual Iraque - 2100 a.C. aprox.
 



Fontes:


Buarque de Holanda Ferreira, Aurélio
Novo Dicionário da Língua Portuguesa, 2ª edição, revista e aumentada. Rio de Janeiro. Editora Nova Fronteira. 1986.