30 junho 2011

ARQUITETURA PRÉ-HISTÓRICA

Levando em consideração a forma como a maior parte dos historiadores classifica o que é pré-histórico, ou seja, o que não foi registrado pela humanidade com a escrita, vamos ver os primórdios da arquitetura e os primórdios até mesmo das civilizações que ainda não existiam. A importância desta arquitetura é muito maior do que se julga até hoje, embora pareçam a primeira vista obras de povos sem desenvolvimento e de pouca técnica construtiva é justamente o oposto, como veremos estas construções são as bases de tudo o que é construído até hoje, são resultados da união de pessoas para transformar um conjunto de crenças em um espaço materializado para refletir essas crenças, união primordial para o desenvolvimento de uma civilização, a forma de vencer o entorno agressivo e transmitir isso para as gerações seguintes e mesmo que o significado primordial exato tenha se perdido, o germe foi passado adiante e a sociedade destas pessoas venceu e deixou algo.
Um conceito moderno do que é a arquitetura tem que passar pelo conceito de espaço. Faz pouco tempo que este “nada” onde as pessoas se movimentam e vivem foi encontrado e reconhecido pelos arquitetos como a essência de seu trabalho, ele sempre esteve lá como a coisa mais importante, mas ainda se tem a idéia de que um arquiteto é um “ornamentador” de edifícios, um especialista em beleza construtiva. Embora não seja o descobridor do espaço na arquitetura, o arquiteto francês Le Corbusier criou o conceito sintetizado do que é a matéria-prima da arquitetura.

“O espaço... é o protagonista da arquitetura.”

É claro que o espaço sem delimitações é algo não palpável, vago demais, e este é um dos motivos por que ele ficou escondido por tanto tempo, mas a partir do momento em que ele se transforma no protagonista a história da arquitetura ou a pré-história da construção se amplia e estas obras primitivas se tornam muito importantes.

Imagine um deserto, plano e monocromático, com um horizonte reto e distante, sem nada por perto e enquanto você o atravessa surge no horizonte uma linha elevada verticalmente, uma forma não natural. Qual é a sua reação? A curiosidade te leva até lá para descobrir o que é aquilo, pois aquilo é algo feito por outros seres humanos, aquilo tem ou teve alguma importância para alguém que gastou tempo e energia naquilo. Assim começou a arquitetura, com elementos materiais muito primários demarcando espaços. Não importa qual o significado primário que tenha certa coluna elevada em qualquer lugar que seja, em volta dela se cria um espaço atrativo.

Obelisco do Parque do Ibirapuera, Sao Paulo, Brasil

Na teoria do desenho, o elemento mais simples é o ponto, que não tem dimensão, embora arquitetonicamente o ponto (algo colocado na superfície do solo) não seja inválido, ele ainda não tem a primeira dimensão que é tão importante para o conceito de espaço, a partir daí o que passa a ser considerado como arquitetura tem que definir um espaço construído sobre a superfície do solo. No deserto, nas proximidades da cidade de Nazca, no Peru, existem linhas e desenhos complexos traçados no solo, e que tinham grandes significados para aqueles povos que recebem hoje o mesmo nome da cidade. Levando em consideração o espaço como protagonista da arquitetura e reconhecendo que duas dimensões ocupam espaço, deve-se dar a estes desenhos no solo do deserto o estatus de arquitetura? Não. É intrínseca à arquitetura a edificação, algo que se eleva do solo, mesmo que seja o solo subterrâneo, até mesmo uma praça está delimitada por edificações ou será em algum momento envolvida por elas, neste caso o uso de elementos como árvores ou taludes que são contenções do solo, são elementos verticais de interferência humana e que distinguem um simples desenho no solo (que pode ser uma delimitação de um terreno, por exemplo) de uma edificação.
Qual é então a construção primordial?
O menir (do bretão men = pedra e hir = longa) era um megálito, uma pedra grande, colocada verticalmente sobre o solo, apontando para o céu, uma forma fálica, que poderia ter muitas utilidades e significados, vitalidade, fertilidade, fecundidade, monumento comemorativo, utilidades astronômicas ou demarcações geográficas, mas era sempre um elemento que definia um espaço importante e significativo. Estas sociedades não poderiam ter erigido estes megálitos sem o uso da força conjunta ou da alavanca e esta é a origem do que é hoje denominada a coluna moderna nas construções.
Menir da meada, Alentejo, Portugal (cerca de 3000 a.C.)
Posteriormente se passou a alinhar essas pedras, as linhas eram retas ou curvas e eram orientadores astronômicos e/ou geográficos, chamados de alinhamentos de menires, eram o que hoje são as colunatas.
Quando estas pedras eram agrupadas, estes espaços tinham significados religiosos, formando recintos sagrados ou lugares de culto onde eram estudados os fenômenos celestes, são chamados atualmente de cromeleques, que se apresentam em forma de círculos simples, círculos duplos, retângulos e elipses, eram espaços onde a tribo se encontrava, são como as praças modernas.
Cromeleque de Stonehenge, Salisbury, Inglaterra (cerca de 2075 a.C.)
Os trílitos consistiam em dois menires com uma pedra apoiada sobre eles formando o que é atualmente um pórtico de pedra. Os trílitos alinhados também se chamam cromeleques, o mais famoso é Stonehenge na Inglaterra, estes alinhamentos de trílitos correspondem ao que são hoje as chamadas arquitraves.
Posteriormente a complexidade destes megálitos aumentou dando origem aos dolmens (do bretão dol = mesa e men = pedra), eram trílitos encostados formando uma mesa de pedras ou uma grande pedra apoiada sobre vários menires que tinham funções mortuárias, também são conhecidos por antas, orcas, arcas ou palas. São mais encontrados na península hibérica embora existam em outras partes do mundo.
Dolmen da Pedra da arca, Galiza, Espanha (cerca de 3000 a.C.)
Menos comuns são as taulas (significa mesa, em catalão), são pedras horizontais apoiadas sobre uma pedra vertical formando um “T”, podendo ter uma pedra em diagonal apoiada nesta estrutura, também comuns na península ibérica.
Taula de Talatí de Dalt, Menorca, Espanha (cerca de 1000 a.C.)
Posteriormente surgiram as navetas, mais complexas mas ainda em técnica ciclópea (grandes pedras assentadas sem argamassa) com formas naviformes (parecidas com embarcações de cabeça para baixo), também comuns na península ibérica.
Naveta funerária de Es Tudons, Minorca, Espanha (cerca de 1000 a.C.)
Também os nuragos ou nuragues, pedras assentadas formando um tipo de torre-fortaleza em forma de cones, encontradas na Sardenha.

Nurago de Silanus, Sardenha, Itália (cerca de 2000 a.C.)
E por fim os castros, que são aglomerações de construções de pedra quase sempre circulares como os nuragos.

Castro Citânia de Briteiros, Salvador de Briteiros, Portugal - Reconstrucao (cerca de 1000 a.C.)

Fontes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_talay%C3%B3tica

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